Empoderamento, resistência e representatividade: a trajetória de Aline Cunha
Na luta constante por igualdade e representação, a arte tem sido uma poderosa ferramenta para desafiar estereótipos e promover mudanças sociais. Em uma conversa reveladora, a atriz Aline Cunha compartilha sua visão sobre a relevância de Hairspray nos dias de hoje, abordando temas como racismo, gordofobia e autoestima.
Ao interpretar Motormouth Maybelle, uma mulher negra, forte e pioneira na luta pela igualdade, Aline não só se conecta com as lutas raciais e sociais, mas também reflete sobre o papel transformador da arte em questionar e reconstruir os padrões de beleza e identidade impostos pela sociedade.
1. Como você enxerga a relevância da história de Hairspray nos dias de hoje, especialmente ao abordar questões como racismo e integração racial no contexto do entretenimento?
Hairspray é um acontecimento, e o engraçado é que quando você assiste o início da história ou lê somente o título não imagina a quantidade de temas atuais que são retratados neste filme/peça. Acredito que uma das melhores formas para que possamos tratar temas tão complexos como gordofobia, bullying, racismo, autoestima, favoritismos entre outros, seja através do teatro e audiovisual, pois essas formas de expressões artísticas chegam à uma grande quantidade de pessoas e a todos os públicos, e um outro benefício é que as pessoas se sentem representadas e quem passa por isso, talvez consiga encontrar um caminho para resolvê-lo. Como mulher negra, vejo a importância dessa obra como um lembrete poderoso das lutas contínuas enfrentadas pela comunidade negra em busca de igualdade e a presença de personagens negros em papéis de destaque são essenciais para promover a inclusão e combater estereótipos prejudiciais.
2. Ao interpretar Motormouth Maybelle, uma mulher forte e pioneira na luta pela igualdade, como você conecta a narrativa da personagem com as lutas raciais e sociais que ainda enfrentamos no Brasil e no mundo?
Interpretar Motormouth Maybelle é uma experiência sensacional, especialmente ao conectar sua narrativa com as lutas raciais e sociais que ainda enfrentamos no Brasil e no mundo. Ela representa a resiliência e a determinação da comunidade negra em meio às adversidades e injustiças. No contexto brasileiro e global, as lutas raciais e sociais ainda são uma realidade presente, com a persistência do racismo estrutural, da discriminação e da desigualdade de oportunidades. Interpretar Motormouth Maybelle é uma oportunidade de destacar essas questões urgentes, de inspirar reflexão em prol de uma sociedade mais justa e inclusiva e amplificar as vozes daqueles que continuam a enfrentar obstáculos devido à sua cor de pele. Essa personagem, que com certeza é memorável e icônica, nos faz lembrar que a luta pela igualdade é contínua e que cada um de nós tem um papel a desempenhar na construção de um mundo mais justo, respeitoso e inclusivo.
3. Depois de viver Sister Rosetta Tharpe, considerada a “Madrinha do Rock”, quais similaridades você encontra entre as duas personagens em termos de representatividade e quebra de barreiras raciais?
Primeiramente eu comemoro muito o fato delas serem mulheres e lutarem em prol da mudança, afinal se elas não existissem talvez eu não estaria interpretando essas mulheres icônicas. Tanto Sister Rosetta Tharpe quanto Maybelle representam mulheres negras fortes que desafiam estereótipos e abrem caminhos para futuras gerações. Ambas as personagens enfrentaram adversidades e discriminação racial, mas perseveraram com determinação e talento excepcionais. Em relação à representatividade, tanto Sister Rosetta Tharpe quanto Maybelle são figuras que desempenham um papel fundamental na visibilidade e na celebração da cultura afrodescendente. Elas mostram ao mundo a riqueza, a criatividade e a importância das contribuições das comunidades negras para a música, a arte e a sociedade em geral, além de inspirarem outros a fazerem o mesmo. Suas histórias são exemplos poderosos do poder da perseverança, da autenticidade e da determinação na luta por igualdade e justiça em uma sociedade diversa e em constante evolução.
4. A canção Big, Blonde and Beautiful traz mensagens poderosas sobre autoestima e aceitação. Como você acredita que essa mensagem dialoga com questões de identidade negra e padrões de beleza impostos pela sociedade?
Na sociedade contemporânea, os padrões de beleza muitas vezes promovem uma estética que exclui e distancia a diversidade de corpos e traços físicos, prejudicando a autoestima de muitas pessoas, entre elas pessoas negras. A mensagem de “Big, Blonde and Beautiful” lembra de forma poderosa que existe beleza em todas as suas formas e que o importante é a aceitação de si mesmo, a celebração da individualidade e a valorização da autoestima independentemente de padrões preestabelecidos. Para a comunidade negra, essa mensagem é especialmente significativa, pois historicamente os padrões de beleza desvalorizavam corpos e traços físicos negros. Através da canção, é possível perceber palavras de empoderamento e resistência contra a pressão de se encaixar em padrões bem distantes do seu. Assim, “Big, Blonde and Beautiful” representa uma reflexão sobre a importância da diversidade e da representatividade na construção de uma identidade positiva e saudável.
5. O que significa para você, como mulher negra, dar vida a uma personagem tão emblemática quanto Motormouth Maybelle, especialmente em um musical que celebra a diversidade e o poder da união?
Recebi esse papel como um verdadeiro presente, pois sempre amei assistir Hairspray e interpretá-la tem sido altamente gratificante. Essa personagem representa o famoso “SIM! Você pode fazer isso” e dar vida a uma personagem tão emblemática é uma experiência profundamente significativa e transformadora para mim. Interpretar a Maybelle não é apenas uma oportunidade de atuar e cantar, mas também uma chance de honrar a força, a resiliência e a voz da comunidade negra. A personagem é um símbolo de empoderamento e representatividade, mostrando a importância de se manter firme na própria identidade e de lutar por justiça e igualdade em um mundo que nem sempre reconhece o valor e a contribuição da comunidade negra. Além disso, em um musical que celebra a diversidade e o poder da união, interpretar Motormouth Maybelle é uma oportunidade de destacar a importância da solidariedade, do respeito mútuo e da colaboração entre diferentes grupos étnicos e culturais. Ela nos ensina que a verdadeira força está na união e na aceitação das nossas diferenças, construindo assim um mundo mais inclusivo e acolhedor para todos.