Ramon Díaz: técnico do Vasco era esperança argentina no guia da Copa de 1982
A campanha de recuperação do Vasco da Gama no Campeonato Brasileiro tem nome e sobrenome: Ramón Díaz. Desde que o treinador argentino chegou em São Januário, a equipe cruzmaltina conseguir se organizar para ser competitiva e fugir do Z-4. Técnico histórico do país vizinho, Ramón Díaz não fez carreira somente à beira do campo, mas também brilhou dentro das quatro linhas. No Guia da Copa do Mundo de 1982, edição nº 625, PLACAR destacou o atacante que era a esperança hermana para o bicampeonato.
A carreira do atacante Ramón Díaz começou no River Plate, no emblemático ano de 1978 (primeiro título mundial da Argentina). Então jovem, Ramón brilhou no ataque millonario ao conquistar quatro títulos nacionais – sempre balançando as redes.
O início de carreira promissor credenciou o atleta a jogar no badalado Campeonato Italiano, casa das maiores estrelas do futebol mundial à época. Ramón Díaz passou por Napoli, Avellino, Fiorentina e Inter de Milão, até se aventurar na França e fazer história com o Mônaco. Depois voltou para casa, ao River Plate, e se aposentou do outro lado do mundo – pelo Yokohama Marinos, do Japão.
À exceção pelo time italiano de Maradona, o argentino marcou ao menos 10 em todos os clubes que defendeu e ainda conquistou o nacional pela Fiorentina durante sua passagem.
Centroavante canhoto e habilidoso, que por vezes jogava como ponta, defendeu a seleção da Argentina em 24 oportunidades, marcando 10 gols com a camisa albiceleste. Antes da Copa do Mundo de 1982, PLACAR já destacava o ‘Tostão de 1970’. No dia 2 de julho daquele ano, Argentina e Brasil se encontraram no estádio de Sarria em confronto histórico marcado pela expulsão de Maradona e a vitória brasuca por 3 a 1 – gols de Zico, Serginho Chulapa e Júnior. O único tento hermano foi dele: Ramón Díaz.
Confira a íntegra da matéria:
MARADONA É A DIFERENÇA
Com um time experiente, integrado por nove campeões mundiais, o técnico pretendi ir longe: “Além do mais, teremos Ramón Díaz, que será o Tostão de 1970, e Diego Maradona”.
por Divino Fonseca
Às 15h do próximo dia 13 de junho, em Barcelona, a Argentina estréia contra a Bélgica na abertura da 12ª Copa do Mundo mostrando apenas um avanço em relação à sua conquista de quatro anos atrás: desta vez, contará com Diego Armando Maradona, 21 anos, o jogador mais incensado do mundo. A partir daí, começam as desvantagens: jogará fora de casa, as outras seleções progrediram, os juízes serão impermeáveis às suas pressões e ela não encontrará adversário eventualmente desprovido de espírito de luta.
PELÉ EXPLODIU EM 1958 PORQUE ERA DESCONHECIDO
Usar o termo “apenas” quando se fala de Maradona talvez seja uma imprecisão. Afinal, trata-se de um habilidosíssimo ponta-de-lança, e não se pode afirmar que os dirigentes europeus perderam o juízo quando ofereceram quantias fantásticas por seu passe. Mas também é verdade que, nesses quatro anos, Maradona jamais se constituiu em claro ponto de desequilíbrio ao enfrentar seleções de primeira categoria — em parte devido à implacável marcação que lhe moveram. “A vantagem de Pelé ao estrear em Copa do Mundo é que ele era um desconhecido”, diz o técnico César Luís Menotti, já apreensivo com os esquemas especiais que procurarão anular seu astro na Espanha. Além do fato de Maradona não ser Pelé, a obsessão pelo lance de brilho pessoal que o persegue até o último minuto só faz aumentar suas dificuldades. E Menotti não é original ao preconizar a solução para o problema. “Diego terá toda a liberdade para se movimentar por onde quiser”, ele antecipa. Pelé costuma contar: “Quando grudavam em mim, eu não ficava só esperando a bola. Ia ajudar a anular o melhor jogador do adversário”.
Individualismo à parte, a Argentina forma uma seleção respeitável: Fillol, Orguin, Luís Galván, Passarella e Tarantini; Gallego, Ardiles e Maradona; Bertoni, Ramón Díaz e Kempes. Desses, apenas Ramón Díaz e Maradona não participaram da Copa de 1978. Indiscutivelmente, além do supercraque do Boca Juniors, outros três estão entre os melhores do mundo em suas posições: o goleiro Fillol, 31 anos, o quarto-zagueiro Passarela, 28, e o armador Ardiles, 29.
Os que apostam cegamente no fracasso desse time talvez argumentem que se trata de um grupo envelhecido. Mas não há fundamento. Os quatro anos só contribuíram para aumentar a experiência dos jogadores, e mesmo o mais veterano deles, Galván, 34 anos, ainda é um zagueiro enérgico e seguro. Contudo, o conservadorismo de Menotti não é uma garantia de que se verá na Espanha uma seleção com força de conjunto, com fluência de movimentos ou, como ele gosta de dizer, com mecânica — pelo menos do meio para a frente, onde se processaram as duas alterações. No meio-campo, Ardiles e Maradona jogaram apenas três vezes juntos em suas vidas: duas no Mundialito e uma no recente amistoso contra a União Soviética. Aparentemente, não há problema: ambos são craques e restam ainda 30 dias de treinamentos. Só que, trabalhando contra a harmonia, persiste a tendência de se centralizar as jogadas de saída para o ataque nos pés do sempre tenazmente marcado Maradona.
NÃO FOI FÁCIL EM 1978. AGORA, SERÁ DIFICÍLIMO
É o novo centroavante, porém, que impede a Argentina de se tomar uma equipe de movimentos ininterruptos na frente. Menotti declarou a PLACAR, recentemente: “Ramón é comparável ao Tostão da Copa de 70”. Um despropósito. O ágil canhoto Ramón, na verdade, exagera nas arrancadas individuais e, quando tenta jogar como Tostão, recuando ou abrindo para os lados, parece fazer isso a dois segundos do momento exato. No íntimo, é possível até que Menotti esteja lamentando o envelhecimento de Luque, um centroavante comparável a Vavá, da Copa de 58.
Mas o que mais conspira contra o sonho do bi é mesmo o progresso técnico dos adversários. Ao alcançar o título na Copa de 78, a Seleção Platina já não desenvolveu uma campanha brilhante: ganhou da Hungria e da França por 2 x 1, perdeu para a Itália (O x 1), venceu a Polônia (2 x O), empatou com o Brasil (0 x 0), goleou o Peru num jogo suspeito (6 x O) — para vencer a decadente Holanda na prorrogação da final (3 x 1). Foi um título merecido, até porque nenhuma seleção mostrou mais futebol do que ela. Passados quatro anos, porém, o panorama é outro.
A Argentina poderá comprovar isso na prática já na primeira partida, quando enfrentar a Bélgica, vice-campeã da Europa. Se for adiante, talvez encontre o Brasil, uma equipe sem nada a ver com a de 1978. E, quem sabe, terá que enfrentar a Alemanha Ocidental, uma seleção muito mais enérgica e criativa que o arremedo de há quatro anos.
Resta ainda a Guerra das Malvinas. Se não impedir a própria participação da Seleção, ela poderá influir no ânimo dos jogadores, incutindo-lhes o sentimento de patriotismo que os transformarão em lutadores invencíveis? É provável que nem isso ocorra. O comandante Menotti é um pacifista que nunca afinou com o Governo de seu país e que garante que jamais vai misturar competição com política. Em resumo: a Argentina ainda é uma das favoritas, mas, se em 78 não foi fácil, agora será mais difícil ainda.
Fonte: esporte.ig.com.br